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sexta-feira, dezembro 09, 2005

Um soco no estomâgo numa noite de feriado






"O Fiel Jardineiro

Com o fim da Guerra Fria muitos autores deixaram de ter matéria para escrever romances de pura espionagem. John Le Carré, um dos mais brilhantes escritores da actualidade, não foi excepção e em obras mais recentes, como «O Alfaiate do Panamá» e este «The Constant Gardener», acentuou a sua vertente de comentador social e autor de crónicas de costumes.
Apesar disso, «O Fiel Jardineiro» é acima de tudo uma história de amor, no sentido lato; o amor por uma mulher, por uma causa e por um continente.
A ficção começa por nos apresentar Justin (Ralph Fiennes), um oficial diplomático do governo britânico, e a sua mulher, Tessa (Rachel Weisz) , uma activista militante. Pouco depois do casamento, Justin é destacado para o Quénia e o casal instala-se em Nairobi.
Uns meses mais tarde, Tessa e o seu amigo Arnold (Hubert Kounde), um médico africano, são encontrados mortos.
A acção do filme arranca com um crime que aos olhos de Justin prova a infidelidade recente da sua mulher. Atormentado, resolve iniciar uma investigação que o levará a repetir os passos de Tessa.
Aos poucos, vai ficando a conhecer melhor o carácter da mulher e constata que ela estava a investigar a actuação ilegal de várias empresas farmacêuticas que, com a conivência das autoridades inglesas, usavam os quenianos como cobaias para testar uma nova vacina contra a tuberculose. Ao longo desta jornada, Justin vai descobrindo um con"tinente que desconhecia por completo, arrastando o espectador nesta sua descoberta.
John Le Carré dotou esta história de uma estrutura circular, onde os dados vão sendo revelados de forma parcelar. Fernando Meirelles respeitou esta opção e apresenta-nos um filme com um estilo narrativo fragmentado e não linear que, através de elipses e flashbacks, vai reconstituindo o percurso de Tessa, sem nunca perder de vista o drama íntimo deste casal. «The Constant Gardener» congrega vários géneros, misturando o drama afectivo com o thriller, e abordando as questões sociais e políticas da época.
Fernando Meirelles recorre mais uma vez a uma fotografia saturada, ao uso da câmara ao ombro e a uma abordagem quase documental dos espaços, criando assim uma visão crua e orgânica desta realidade. Tal como acontecia em «Cidade de Deus» adopta uma visão estética «suja» que casa bem com o tema da desumanidade e da corrupção que o filme explora.
Quanto aos actores há a registar uma confirmação e uma revelação. Ralph Fiennes, indiscutivelmente o melhor actor britânico da sua geração, repete aqui um registo semelhante ao de «O Paciente Inglês», encarnando de forma genial a figura de um homem recatado, aparentemente indiferente aos problemas que o rodeiam, que gosta de cuidar de plantas. Há quem considere que este é o seu maior papel (ele que tem tantos) e muitos afirmam que isso lhe valerá uma nomeação ao Oscar. Se tal acontecer, este pode ser o ano em que o actor recebe a estatueta dourada que já vem merecendo há algum tempo.
Rachel Weisz, actriz que até aqui apenas tinha tido desempenhos pouco mais do que medianos em filmes vincadamente comerciais, revela-se uma actriz dramática com A maiúsculo, não tendo escapado a uma 'rajada' de elogios da imprensa internacional.
Todos estes argumentos deram origem à opinião generalizada de que estamos diante de um dos filmes obrigatórios de 2005." DC in Estreia Online

1 Comments:

  • At 9/12/05 15:26, Anonymous Anónimo said…

    Brutal!Foi realmente um soco no estomago. Mas valeu muito a pena. Obrigada amiga pela companhia para mais um filme fort mas extraordinário

     

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