Jogo de cintura
A mais recente performance parlamentar da actual (por enquanto) Ministra da Educação fez-me lembrar uma história passada comigo próprio há uns anos atrás, numa altura em que andava a bater com a cabeça nas paredes num emprego que para além de não me fazer sentir por aí além realizado, me obrigava a conviver diariamente com situações e pessoas que não me agradavam minimamente. Neste contexto fui-me vendo quotidianamente exposto à marcação serrada do grupelho de uns quantos que, não tendo poder formal produto de um posicionamento hierárquico institucionalizado ou legitimado pela qualidade do trabalho que desenvolviam, detinham doses consideráveis daquilo que realmente interessa nas organizações deste nosso Portugal, isto é, o poder informal – altamente determinante e condicionador de relações que se suporiam à partida profissionais – resultante de situações, arranjos e conveniências tão prosaicos quanto exógenos ao contexto profissional em sentido estrito. Em pouquíssimo tempo passei a sentir-me à margem, não integrado e, verdade seja dita, sem vontade nenhuma de me integrar. Na fase final da coisa e em vésperas de decidir pôr-me a andar, uma colega caracterizava a minha situação como falta de jogo de cintura. Ela estava cheia de razão, a minha coluna vertebral era por assim dizer demasiado rígida.
Ontem, para além da impreparação e do nervosismo (já para não falar da imagem patética do papelito tosco a servir de cábula), pareceu-me ter visto essa mesma falta de jogo de cintura, essa mesma rigidez lombar, estampada na expressão corporal e facial da Ministra. É o semblante de alguém que claramente não consegue balançar a cintura aos ritmos do samba político, de conviver com todos os que a atacavam violentamente (sem que se saiba o que cada um deles e respectivas cliques tenham alguma vez feito em prol da educação), de alguém que já deve tar farto de ouvir os que, confortavelmente abancados, de guardanapo ao colo, se vão banqueteando à mesa do Estado e se insurgem quando alguém lhes recorda que têm para além de direitos, obrigações, de alguém que ouve os representantes sindicais (há um em particular que me enche as medidas porque quem como eu o conhece profissionalmente sabe que o homem não pode sequer ser apelidado de nódoa sob pena de incorrer em procedimento criminal por injúrias às nódoas) dos professores dizerem disparates uns atrás dos outros, limitando-se a manter-se fiéis não aos alunos e a uma perspectiva profissional séria mas antes à manutenção de interesses corporativos. Em suma, a senhora Ministra tá farta. E é por isso e por essa sua falta, se calhar não de competência, mas de jogo de cintura, de capacidade e vontade de integração, que devia seguir o seu caminho e mudar de ares, deixando a vida selvagem entregue a si própria e os bichinhos da selva felizes enquanto se comem uns aos outros. Fazia-lhe bem.
Ontem, para além da impreparação e do nervosismo (já para não falar da imagem patética do papelito tosco a servir de cábula), pareceu-me ter visto essa mesma falta de jogo de cintura, essa mesma rigidez lombar, estampada na expressão corporal e facial da Ministra. É o semblante de alguém que claramente não consegue balançar a cintura aos ritmos do samba político, de conviver com todos os que a atacavam violentamente (sem que se saiba o que cada um deles e respectivas cliques tenham alguma vez feito em prol da educação), de alguém que já deve tar farto de ouvir os que, confortavelmente abancados, de guardanapo ao colo, se vão banqueteando à mesa do Estado e se insurgem quando alguém lhes recorda que têm para além de direitos, obrigações, de alguém que ouve os representantes sindicais (há um em particular que me enche as medidas porque quem como eu o conhece profissionalmente sabe que o homem não pode sequer ser apelidado de nódoa sob pena de incorrer em procedimento criminal por injúrias às nódoas) dos professores dizerem disparates uns atrás dos outros, limitando-se a manter-se fiéis não aos alunos e a uma perspectiva profissional séria mas antes à manutenção de interesses corporativos. Em suma, a senhora Ministra tá farta. E é por isso e por essa sua falta, se calhar não de competência, mas de jogo de cintura, de capacidade e vontade de integração, que devia seguir o seu caminho e mudar de ares, deixando a vida selvagem entregue a si própria e os bichinhos da selva felizes enquanto se comem uns aos outros. Fazia-lhe bem.
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