quatro minutos depois das sete

hora de partida para outro lado qualquer...

quinta-feira, novembro 25, 2004

Hoje lembrei-me de ti...

A Mimi afigurava-se, para quem tinha o privilégio de a conhecer, como o exemplo acabado da pequena grande mulher. De olhar desconfiado, uns olhos castanhos claros que tudo pareciam observar, a Mimi reluzia, do alto do seu metro e meio, o encanto dos dezanove anos acabados de cumprir.
Caída de pára-quedas na turma depois de um rocambolesco processo de repescagem em segunda fase de exames, depressa conquistou a amizade e o respeito dos que com ela privavam. No meu caso, mais do que a amizade, conquistou um lugar especial na galeria de recordações que cada um de nós transporta consigo. Enérgica, com um sorriso de miúda que volta e não volta quebrava o ar sério que muitas vezes trazia estampado no rosto, a Mimi tinha um daqueles caminhares deliciosos, muito direita, passos curtos e rápidos, pés minúsculos, sempre com ar de quem sabe para onde quer ir e já está atrasado para um encontro deveras importante. Os trabalhos de grupo, as conversas de corredor e uma ou outra saída à noite aproximaram-nos. Por entre as teorias sociais, as metodologias, as cadeiras e os cadeirões, as inevitáveis conversas acabavam por ir parar às questões mais prementes para quem se prepara para abandonar a adolescência: os amores, os desamores, as amizades, a família, os sonhos, as angústias. E foi assim que fui sabendo que a Mimi tinha uma mãe que adorava, um irmão mais novo que lhe enchia o peito de orgulho, de preocupação e também de espanto quando a confrontava com os episódios de experimentalismo juvenil masculino e com os ensaios - pouco ortodoxos – de vida adulta que a maior parte dos rapazes leva a cabo nessa complicada “idade da prateleira”. E soube também que havia alguém especial que tinha colorido umas férias de Verão passadas no refúgio das serranias do norte para onde a Mimi escapava sempre que podia e onde se reencontrava com os amigos e com as origens. Esse alguém, de quem falava por meias palavras, parecia ter ficado retido na sua mente, talvez por ser um daqueles casos impossíveis, transportando consigo toda a carga mística do fruto proibido, dos ses – ao que parece geográficos no caso em concreto.

2 Comments:

  • At 25/11/04 15:50, Anonymous Anónimo said…

    Continua...
    mc

     
  • At 3/12/04 12:01, Anonymous Anónimo said…

    Q N...a, não te conhecia assim!!
    Incrivel como lidamos com as pessoas no dia-a-dia e nunca chagamos a conhecer o seu verdadeiro EU...

     

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