quatro minutos depois das sete

hora de partida para outro lado qualquer...

segunda-feira, setembro 17, 2007

A impressão do vazio


De volta às viagens de comboio, dei por mim a espreitar pela janela da carruagem, lá do alto da Estação de Entrecampos cá para baixo, para o que me pareceu ser, assim à primeira vista, um despropositado, quer pelo tamanho como pela localização, terreno baldio.
Pejado de entulhos, com ervas e arbustos daninhos a espreitar por cada frincha por entre as pedras, lá está o que resta da Feira Popular, o sítio onde em miúdo ía comer sardinhas assadas e farturas, andar no carrossel, nos carrinhos de choque, na montanha russa e espreitar o extraordinário (pelo menos na altura parecia-me) Poço da Morte. O sítio também onde a minha mãe, mercê de alguma sorte nos jogos das rifas, acumulou uma invejável colecção de tachos e panelas de alumínio. O sítio que durante anos serviu de palco para o segundo emprego do meu pai, permitindo-nos assim fintar as limitações do orçamento lá de casa, mesmo que isso significasse nunca o ter por lá.
Por instantes, os instantes que o comboio permaneceu imóvel na estação, foi impossível olhar para aquele espaço sem pensar em todas essas pequenas coisas de que há muito me não lembrava.


1 Comments:

  • At 17/9/07 14:26, Anonymous Anónimo said…

    no fundo mais um fenómeno na gestão urbanistica da nossa cidade. mais um assunto que se espera que a 'falta de memória' habitual dos lisboetas/portugueses ajude a resolver...

    é reconfortante quando constatamos estas coisas!!!

     

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