À beira Tejo
- “Normalmente o fogo de artificio encerra sempre os grandes acontecimentos.”
É curioso como o envolvimento do momento raramente nos deixa entender a importância dessas fracções de espaço e tempo em que tudo muda irreversivelmente. E foi assim que, por entre o turbilhão de pensamentos que nesse instante me inundou, ouvi a Luísa proferir aquelas palavras mágicas que, como lhe era tão característico, desenhavam já qualquer coisa que ambos sabíamos inevitável mas que só ela sabia definir e esmiuçar de uma forma que normalmente me deixava assustado.
- “Noutra encarnação tenho a certeza de ter sido uma bruxa celta queimada numa fogueira!” dizia ela muitas vezes quando o futuro, entretanto tornado presente, lhe dava uma e outra vez razão. Coisa estranha essa mas a verdade é que aquela sensibilidade à flor da pele que me fascinava transportava consigo esse efeito secundário deliciosamente indesejável, esse domínio sobre o alfabeto das coisas que nos rodeiam e que permite perceber e antecipar a mecânica existencial.
Claro está que tudo o que se ergue acima do banal, do mundano tem normalmente associado um custo elevado e na Luísa as coisas complicavam-se. A inteligência, no seu formato lúcido e esclarecido, agregada àquela aura que acompanha os que vivem intensamente todas as coisas - por mais insignificantes que estas possam parecer à maioria daqueles com quem coexistem – resulta invariavelmente em sofrimento e numa, quase sempre, inevitável solidão. Essa omnipresente consciência das coisas, que não se compadece com o adormecimento induzido a que a maioria de nós parece entregar-se – uma vez mais outras menos – voluntariamente, é dolorosa, quanto mais não seja porque a constante condição de acordado é desgastante.
- “Não dizes nada?”
Dizer o quê? Que a noite está resplandecente, que o vai e vem de luzes que inunda a ponte sobre nós me faz perceber que a vida não pára, que o rio à nossa frente vai correr hoje, amanhã e depois e depois, indiferente a nós e às palavras que possamos arremessar um ao outro aqui e agora? Que o fogo de artifício parece ali posto de propósito para colorir aquele momento de estertor? Fantástica coreografia de luzes, imagens e sons, tudo montado por outros e para outros e no entanto tão perfeitamente adaptado a nós. Porra!
É curioso como o envolvimento do momento raramente nos deixa entender a importância dessas fracções de espaço e tempo em que tudo muda irreversivelmente. E foi assim que, por entre o turbilhão de pensamentos que nesse instante me inundou, ouvi a Luísa proferir aquelas palavras mágicas que, como lhe era tão característico, desenhavam já qualquer coisa que ambos sabíamos inevitável mas que só ela sabia definir e esmiuçar de uma forma que normalmente me deixava assustado.
- “Noutra encarnação tenho a certeza de ter sido uma bruxa celta queimada numa fogueira!” dizia ela muitas vezes quando o futuro, entretanto tornado presente, lhe dava uma e outra vez razão. Coisa estranha essa mas a verdade é que aquela sensibilidade à flor da pele que me fascinava transportava consigo esse efeito secundário deliciosamente indesejável, esse domínio sobre o alfabeto das coisas que nos rodeiam e que permite perceber e antecipar a mecânica existencial.
Claro está que tudo o que se ergue acima do banal, do mundano tem normalmente associado um custo elevado e na Luísa as coisas complicavam-se. A inteligência, no seu formato lúcido e esclarecido, agregada àquela aura que acompanha os que vivem intensamente todas as coisas - por mais insignificantes que estas possam parecer à maioria daqueles com quem coexistem – resulta invariavelmente em sofrimento e numa, quase sempre, inevitável solidão. Essa omnipresente consciência das coisas, que não se compadece com o adormecimento induzido a que a maioria de nós parece entregar-se – uma vez mais outras menos – voluntariamente, é dolorosa, quanto mais não seja porque a constante condição de acordado é desgastante.
- “Não dizes nada?”
Dizer o quê? Que a noite está resplandecente, que o vai e vem de luzes que inunda a ponte sobre nós me faz perceber que a vida não pára, que o rio à nossa frente vai correr hoje, amanhã e depois e depois, indiferente a nós e às palavras que possamos arremessar um ao outro aqui e agora? Que o fogo de artifício parece ali posto de propósito para colorir aquele momento de estertor? Fantástica coreografia de luzes, imagens e sons, tudo montado por outros e para outros e no entanto tão perfeitamente adaptado a nós. Porra!
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