quatro minutos depois das sete

hora de partida para outro lado qualquer...

quarta-feira, setembro 14, 2005

Du hast mich gefragt und ich hab nichts gesagt

A rapaziada neo-nazi cá do sítio ganhou coragem e saiu do armário. No curto espaço de três meses preparam-se para premiar os restantes habitantes do território com a terceira manifestação. A primeira, para quem se lembra, foi convocada em nome da preocupação com o aumento da criminalidade. A segunda, em Agosto, passou um bocadinho mais despercebida e foi apenas e tão só uma sentida e despropositada homenagem a Rudolph Hess, o tipo que ajudou Hitler a fundar o NSDAP e a escrever Mein Kampf, o mesmo que depois, a meio da guerra, se meteu sozinho num avião, saltou de pára-quedas sobre Inglaterra, foi apanhado à mão por um agricultor e passou os restos dos dias da sua vida a ver o Sol nascer aos quadradinhos até à sua morte como único prisioneiro na prisão de Spandau (não sei se os Spandau Ballet se inspiraram na história para escolher o nome, mas para o caso também não interessa). Figura controversa, caído em desgraça dentro do regime nazi, os propósitos desta estranha viagem de Hess nunca ficaram inteiramente esclarecidos, muito embora a tese que prevalece é a de que o homem decidiu tornar-se num dissidente e tentou encetar negociações a título particular com alguns amigos influentes em Inglaterra por forma a chegar a um acordo que pusesse fim ao conflito. Para a história ficou a imagem de um homem patético, tragado pelos acontecimentos que ajudou a fazer acontecer e no final, vencido pela demência a que o cárcere o terá conduzido. Contraditórios como sempre e demonstrando alguma ignorância histórica, os nossos amigos de cabeça rapada andaram pelas ruas de Lisboa a gritar Rudolph Hess! Rudolph Hess!, personagem que apelidaram de mensageiro da paz. Imagino que a maior parte dos transeuntes tenham julgado tratar-se de uma claque estrangeira e que o tal de Rudolph fosse algum avançado de centro ou treinador carismático, pelo que sob o ponto de vista das intenções propagandísticas a coisa deve ter-se saldado por um enorme fiasco.
A terceira manifestação, que pelos vistos irá acontecer Sábado, promete enquadrar-se mais na realidade quotidiana nacional, uma vez que o alvo desta vez é a nova aposta da SIC, o extraordinariamente incipiente programa Esquadrão G. Afirmam estes portugueses neo-nazis que o programa em causa promove e estimula a homossexualidade. Como quase todas as propostas teóricas explicativas dos fenómenos de fobia social diversa (como a xenofobia ou a homofobia) tendem a colocar o medo do desconhecido e da diferença no centro do processo explicativo, presumo que estes manifestantes temam que o visionamento do referido programa possa causar neles próprios o despertar de impulsos homossexuais. Pior ainda, o medo potencia-se no vislumbre de uma eventual satisfação plena. No fundo é o velho dilema cruamente explanado por um conhecido numa conversa de café há uns anos atrás: a pergunta era “Qual é a coisa que mais te assusta ou que mais medo te provoca?” e a resposta célere “Muito sinceramente, levar no….” “Mas o que é que te assusta, a hipótese de doer?” “Não, tenho muito medo de gostar!”
A própria história do nazismo oferece exemplos de “grandes homens” apanhados por esse “perigoso bicho que entra e já não sai”: Herman Goering, Fromm e até Himmler e o próprio Hitler (sim, parece que a Eva Braun era só mesmo um caso de publicidade enganosa) não se livram da fama. Aliás Goering (marechal do ar, comandante da Luftwaffe e grande amigalhaço do fuhrer) seria uma excelente aquisição para o Esquadrão G uma vez que era um grande apreciador de arte, gostava de desenhar ele próprio as fardas exuberantes que vestia, era um notável gourmet, tinha uma retórica excelente e também dava uma perninha na decoração ou seja, era a pessoa certa para transformar um burgesso luso num homem moderno e sofisticado.
Para não variar nem fugir do registo habitual esta rapaziada germanizada mistura temas e na manifestação de Sábado parece que serão entoados lado a lado slogans anti homossexualidade, anti lobby gay* e anti pedofilia. Mal posso esperar pelas imagens.


* O pai do conceito – cujos contornos e limites aliás nunca esclareceu satisfatoriamente – foi o notável do PS Carlos Candal, sendo curiosa a apropriação do termo por um “quadrante ideológico” tão distante.

2 Comments:

  • At 14/9/05 21:52, Blogger Rui Silva said…

    Excelente escolha, Duda. Eu, pela minha parte, metia-os a passar umas férias prolongadas num qualquer estabelecimento prisional, para escreverem um belo diário: "... hoje fui passear ao pátio, pelo caminho passei pelo Carlão, que me sodomizou à bruta". LOL... Palhaços!

     
  • At 19/9/05 12:37, Anonymous Anónimo said…

    O Alberto João já usou esse termo também. É quase um conceito universal...
    Quanto ao post, 'tás lá, miúdo, como já vem sendo hábito...

     

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