quarta-feira, setembro 19, 2007
segunda-feira, setembro 17, 2007
A impressão do vazio
De volta às viagens de comboio, dei por mim a espreitar pela janela da carruagem, lá do alto da Estação de Entrecampos cá para baixo, para o que me pareceu ser, assim à primeira vista, um despropositado, quer pelo tamanho como pela localização, terreno baldio.
Pejado de entulhos, com ervas e arbustos daninhos a espreitar por cada frincha por entre as pedras, lá está o que resta da Feira Popular, o sítio onde em miúdo ía comer sardinhas assadas e farturas, andar no carrossel, nos carrinhos de choque, na montanha russa e espreitar o extraordinário (pelo menos na altura parecia-me) Poço da Morte. O sítio também onde a minha mãe, mercê de alguma sorte nos jogos das rifas, acumulou uma invejável colecção de tachos e panelas de alumínio. O sítio que durante anos serviu de palco para o segundo emprego do meu pai, permitindo-nos assim fintar as limitações do orçamento lá de casa, mesmo que isso significasse nunca o ter por lá.
Por instantes, os instantes que o comboio permaneceu imóvel na estação, foi impossível olhar para aquele espaço sem pensar em todas essas pequenas coisas de que há muito me não lembrava.