quatro minutos depois das sete

hora de partida para outro lado qualquer...

terça-feira, novembro 30, 2004

Coerência, procura-se, talvez depois

O que é ser-se coerente?

Ter presentes um conjunto de princípios, normas ou valores e seguir caminho pela vida respeitando-os, sem desvios, sem grandes inflexões, sem concessões, acho que será isso.

Depois ainda há coerências prét-a-porter, embaladas com papel de embrulho ismo, ia, etc... num mercado quase sem fim.

Depois há ainda as vozes dissonantes dos que à volta vão deixando escapar etiquetas do género quadrado, extremista, leitor de cassetes...

Depois aprende-se que essa coerência, a nossa, é uma daquelas mochilas grandes e pesadas que têm tudo e nos dão imenso jeito porque nos permitem sobreviver no campo ou na serra quando nos perdemos mas que nos arrastam para o fundo quando o assunto é um naufrágio.

Depois surgem os imprevistos, os imponderáveis, para os quais não parece haver qualquer resposta e onde essa grelha de análise do mundo e das coisas que nele figuram não se encaixa nem analisa coisa alguma.

Depois há as pulsões, os desejos, as vicissitudes e condicionalismos existenciais e essa coisa fabulosa chamada carácter idiossincrático do ser humano e essas coisas todas conhecem poucas ou nenhumas fronteiras.

No fim resta apenas aquilo de que se gosta, o que não se gosta, o que se aprende a gostar, o que progressivamente se deixa de gostar, o que se suporta, o que se procura, o que por fim se vai encontrando...

Pelo meio do labirinto dou por mim a pensar que, coerências perdidas à parte, prefiro mil vezes não perder a consciência de que sou e serei sempre, por natureza, incoerente.

segunda-feira, novembro 29, 2004

Para Além do Tejo

Quem me conhece (bem) sabe que, apesar de não ser "intelectual da cultura" (os meus pares nunca o reconhecerão!...), não consigo viver sem a música, o teatro, a dança... e todas as outras expressões artísticas que mexem connosco e que nos fazem viver mundos que não o nosso.
Pois queria partilhar aqui a minha satisfação por ter assistido a uma excelente peça de teatro, no sábado passado. Chamava-se Para Além do Tejo, projecto do Teatro Meridional, da responsabilidade de Miguel Seabra e Natália Luíza. Um espectáculo em que a expressão, o gesto, o corpo se sobrepõem às palavras dando-lhes uma dimensão perturbadora e simultaneamente libertadora, que os actores manipularam de forma exemplar. Para quem não teve oportunidade de assistir, recomendo (enquanto espectadora... pois que não seria de esperar outra coisa...) que mesmo assim saibam mais sobre o processo criativo de construção deste espectáculo em www.teatromeridional.net. (Que vontade de fazer uns workshops...)

Há dias assim

Cinzentos, com chuva, de ínicio de uma semana de trabalho, como o de hoje...
E eu cá estou cinzentão como o dia que vejo correr lá fora, através da janela.

As cores da minha cidade

Para ver Lisboa nas cores que melhor lhe ficam, o preto e o branco.

http://setecolinas.no.sapo.pt

quinta-feira, novembro 25, 2004

Trabalhar em Grupo ou As Dores de Cabeça de um Estudante em Fim de Curso

Ainda me lembro BEM da dificuldade que tive na passagem da prática do curso superior (a quê?) que tirei (a quem?), em que os trabalhos em grupo eram valorizados e estimulados pelos professores, à concretização de uma TESE de DISSERTAÇÃO final (só o nome assusta), a realizar individualmente, com a (des)orientação de um(a) (des)orientador(a), especialista na área e atarefadíssima e (por isso?) pouco paciente.
Só eu (e alguns amigos mais atentos e dedicados, para além da famelga, claro!) sei o quão doloroso foi esse processo (pelas mais diferentes razões).
Mas hoje, em conversa com um amigo que está a fazer o projecto final de curso, apercebi-me que de facto, quando os objectivos não são os mesmos, torna-se muito dificil somar as vontades, multiplicar as disponibilidades e proporcionar pontos de encontro... enfim... FAZER COM QUE TODOS TRABALHEM com a mesma dedicação. Afinal, é difícil trabalhar em grupo quando são poucos os que contribuem activamente para o seu sucesso... há protagonismos que se dispensam! eheh! (Boa Sorte, Giraço)

Então e o facto de comerem criancinhas ao pequeno-almoço?

PCP Divorciado de Uma Sociedade Individualizada e Globalizada
Quinta-feira, 25 de Novembro de 2004

A perda de influência do PCP na sociedade portuguesa é uma realidade que salta aos olhos. O PÚBLICO foi falar com académicos para tentar encontrar as causas deste divórcio entre o mais antigo partido português e uma sociedade cada vez mais individualizada e globalizada.

Por São José Almeida

A perda de influência do PCP na sociedade portuguesa parece ser uma realidade indesmentível que é reconhecida pelo próprio PCP. De partido que teve um capital de simpatia entre intelectuais, artistas, classe média e operariado e que arrastava atrás de si um lote de nomes sonantes, assim como enchia praças e alamedas, o PCP tem vindo a diminuir o seu peso social e eleitoral. Hoje não movimenta a intelectualidade e o meio artístico, nem enche pavilhões.
O desgaste social do PCP reflecte-se naquilo que de mais importante existe na sua acção política em democracia, os resultados eleitorais para a Assembleia da República, onde o PCP está reduzido a 12 deputados depois das eleições de 2002, quando em 1979 elegeu 47 deputados.
O PÚBLICO procurou junto de sociólogos que estudam o fenómeno político respostas para este desgaste. E todos parecem unânimes em apontar o desfasamento, o divórcio entre o PCP e a sua mensagem e a evolução que a sociedade portuguesa sofreu nos últimos 30 anos, em que se verificou uma autêntica revolução sócio-económica com a assunção do consumismo capitalista e com a afirmação de uma sociedade pós-moderna, individualizada, globalizada e mediatizada.
Para o sociólogo Fernando Farelo Lopes, os partidos comunistas geraram um grande capital de simpatia, não só porque defendiam "um ideal de uma sociedade justa", mas também pelo papel histórico desempenhado por estes partidos que "foram campeões da luta antiditadura" e "saem da II Guerra legitimados pela luta contra a guerra". Acresce a este factor de atracção a nível internacional o facto de que, "em Portugal, o PCP "é o único partido que sobrevive à ditadura; o PS, fundado em 1973, não era um partido treinado na luta antifascista". A este património de luta antifascista soma o PCP o facto de que "esteve presente no desmantelamento do regime e teve um papel nos governos provisórios, conseguiu revolucionar a sociedade portuguesa pelo topo e pela base, já que teve um forte papel nos sindicatos", sustenta Farelo Lopes.
"Há uma mudança na estrutura social"
A sociedade portuguesa evoluiu e, para este sociólogo, "há uma mudança na estrutura social" que leva ao desfasamento do PCP. Por um lado, há alterações profundas ao nível do "proletariado rural, nomeadamente alentejano, mas do industrial também". Para além disso, Farelo Lopes salienta que "a mentalidade da sociedade mudou e os valores mudaram". E concretiza: "Houve uma revolução do consumo, sobretudo depois da entrada para a União Europeia, que leva a um desenvolvimento de valores do hedonismo. Há uma igualização do consumo - hoje o jovem operário frequenta a mesma discoteca do filho do proprietário da Quinta da Marinha e, mais feira de Carcavelos, menos feira de Carcavelos, vestem as mesmas marcas."
Farelo Lopes destaca ainda que "a queda do bloco soviético, que era uma referência de legitimidade", como factor de erosão do PCP. E conclui: "O PCP não tirou as devidas consequências do desmoronamento do Leste. O PCP continua agarrado a uma mentalidade do velho tipo, de certezas repetidas à exaustão, quando este tipo de ideologia não é muito compatível com o tipo de sociedade presente. Esse tipo de mentalidade surge onde são espezinhados direitos; esse tipo de ideologia de desafio, de ruptura, contra o poder instalado não se coaduna com a realidade social de hoje - hoje é valorizada a cidadania, a participação. A política é um processo pacífico de múltiplo ajuste de interesses."
"Um partido que não
faz 'input' na governação"
A ruína dos regimes comunistas é também valorizada pelo sociólogo André Freire. "Há uma tendência geral que tem a ver com a queda do Muro de Berlim", afirma André Freire ao PÚBLICO, sustentando também ele que "há uma tendência internacional" perante a qual "talvez poucos partidos tenham conseguido transformar-se e dar origem a formações novas". Mas adverte: "Quanto a mim, a transformação não significa o colapso, como alguns têm defendido. Há o caso do PCI, mas há outros partidos nos países nórdicos, comunistas ou de extrema-esquerda, que evoluíram para novos temas sem descurar os tradicionais e tiveram sucesso."
Quanto ao "caso de Portugal", André Freire pensa que "a situação agrava-se porque, ao contrário do PCE, por exemplo, que tinha perfil mais próximo do eurocomunismo, o PCP é mais estalinista, o que dificulta a mudança." E especifica: "Tem a ver com a atitude face ao regime democrático, com a disponibilidade para alianças, com o estar disponível para ser poder. Primeiro, o PCP tinha reservas sobre o sistema democrático, era mais fortemente anticapitalista. Segundo, a ortodoxia reduziu ao mínimo a disponibilidade como partido de coligação." Isso faz com que "os eleitores abandonem o voto num partido que não faz 'input' na governação, logo não fará governo", ou seja, "será um voto inútil". André Freire adverte que "há até quem defenda que faz o jogo da direita, essa leitura passa".
André Freire dá também relevo a "razões de âmbito económico. Ainda que Portugal seja, "em termos europeus, a primeira ou segunda sociedade mais desigual e continue a haver uma polarização social grande, tem havido, desde a adesão europeia, melhorias e um maior nivelamento". Conclui: "Isso tira espaço ao radicalismo."
"Há uma crescente
individualização"
José David Miranda, professor no ISCTE, que estuda os movimentos sociais, aponta igualmente um conjunto diverso de razões, a começar pelo facto de que "o mundo evoluiu", ainda que no caso particular do PCP lembre que "houve a derrocada do mundo soviético". E neste âmbito diz que "o PCP perdeu as sociedades de referência; agora só podem apontar para o futuro, já não têm exemplos para apontar mais atractivos do que Coreia do Norte e Cuba".
Mas José David Miranda sustenta que este desgaste surge por outros motivos. "Para além do fim da guerra fria, há a globalização e a sociedade de informação." E prossegue, afirmando que "hoje, há também o problema da individualização" e o PCP continua a recorrer a fórmulas como o trabalho colectivo, em que "o indivíduo fica abafado, o interesse colectivo sobrepõe-se ao interesse individual". Isto numa "sociedade em que há uma crescente individualização, a qual leva ao hedonismo e à exigência de outro tipo de solidariedade".
Outro factor apontado por José David Miranda é a "mudança nas classes médias", que "são mais instruídas", ao passo que "a classe operária diminuiu", enquanto o PCP continua a dirigir-se e a falar de "trabalhadores e isso é redutor e pouco apelativo para as classes médias".
Ao nível da mensagem, este professor do ISCTE salienta que actualmente "o facto político só existe quando mediatizado". E, referindo que "o PCP se queixa de que não tem espaço nos 'media' e que o BE é favorecido", questiona: "Mas porque é que PCP não tem outro tipo de intervenção? Não é só o discurso, as pessoas não são escolhidas para serem mediatizáveis. Do ponto de vista mediático, Louçã ganha."
E, recorrendo ao exemplo que diz existir na ciência, José David Miranda afirma: "Há uma teoria na ciência que diz que as teorias científicas só mudam quando morrem os velhos cientistas que as trabalharam."

... e vou sempre lembrar-me.

Curioso é que esse tempo em que o acaso nos juntou numa mesma janela espaço-temporal e que muitas vezes me parece uma eternidade – talvez pela forma cinematográfica como o subconsciente guarda e projecta vezes sem conta na tela da memória esses capítulos que sabe especiais e irrepetíveis - se resumiu afinal a uns escassos nove meses. Tempo para, entre outras coisas, vermos juntos a Luísa a representar magistralmente a cândida Wendla Bergman, personagem do fantástico Despertar da Primavera de Frank Wedekind e peça chave numa trama que teima em relembrar-nos que a descoberta de nós próprios e do mundo que nos rodeia pode ser ao mesmo tempo qualquer coisa de magnífico e de trágico.
Um último jantar de turma, seguido de uma ida às docas, espaço para comentar e rir a propósito dos acontecimentos desse ano lectivo, falar das opções para o próximo ano, celebrar a primeira vitória num combate com vários rounds que vislumbrávamos duro e demorado.
No fim da noite porque o carro tinha ficado longe da esplanada ofereci-me para a acompanhar e lá fomos conversando e foi conversando acerca de coisas que já não recordo que ainda ficámos algum tempo até que nos despedimos e ela arrancou com o carro, com a dificuldade própria de um recém encartado ainda bastante inseguro. Recordo-me porém que foi com uma inexplicável angústia que vi o carro afastar-se, com aquela estranha sensação de ausência de gravidade na região umbilical e que normalmente surge, qual reflexo emanado de um misterioso sexto sentido, como sinal de um perigo desconhecido e eminente. Talvez fosse simples preocupação com a operação de peito aberto que a aguardava daí a três dias. Talvez esse sexto sentido me dissesse daquele modo que a Mimi se haveria de perder nessa noite nas ruas de Lisboa, de tal forma que teria de abandonar o carro e seguir para casa de táxi. Ou então, talvez tivesse sido aquele um momento em que inconscientemente soube que não mais haveríamos de partilhar os sons, as imagens e os cheiros de uma noite passada à beira do Tejo.

Hoje lembrei-me de ti...

A Mimi afigurava-se, para quem tinha o privilégio de a conhecer, como o exemplo acabado da pequena grande mulher. De olhar desconfiado, uns olhos castanhos claros que tudo pareciam observar, a Mimi reluzia, do alto do seu metro e meio, o encanto dos dezanove anos acabados de cumprir.
Caída de pára-quedas na turma depois de um rocambolesco processo de repescagem em segunda fase de exames, depressa conquistou a amizade e o respeito dos que com ela privavam. No meu caso, mais do que a amizade, conquistou um lugar especial na galeria de recordações que cada um de nós transporta consigo. Enérgica, com um sorriso de miúda que volta e não volta quebrava o ar sério que muitas vezes trazia estampado no rosto, a Mimi tinha um daqueles caminhares deliciosos, muito direita, passos curtos e rápidos, pés minúsculos, sempre com ar de quem sabe para onde quer ir e já está atrasado para um encontro deveras importante. Os trabalhos de grupo, as conversas de corredor e uma ou outra saída à noite aproximaram-nos. Por entre as teorias sociais, as metodologias, as cadeiras e os cadeirões, as inevitáveis conversas acabavam por ir parar às questões mais prementes para quem se prepara para abandonar a adolescência: os amores, os desamores, as amizades, a família, os sonhos, as angústias. E foi assim que fui sabendo que a Mimi tinha uma mãe que adorava, um irmão mais novo que lhe enchia o peito de orgulho, de preocupação e também de espanto quando a confrontava com os episódios de experimentalismo juvenil masculino e com os ensaios - pouco ortodoxos – de vida adulta que a maior parte dos rapazes leva a cabo nessa complicada “idade da prateleira”. E soube também que havia alguém especial que tinha colorido umas férias de Verão passadas no refúgio das serranias do norte para onde a Mimi escapava sempre que podia e onde se reencontrava com os amigos e com as origens. Esse alguém, de quem falava por meias palavras, parecia ter ficado retido na sua mente, talvez por ser um daqueles casos impossíveis, transportando consigo toda a carga mística do fruto proibido, dos ses – ao que parece geográficos no caso em concreto.

Dia Não

Contrariamente ao meu companheiro de blog, que consegue ser ainda mais racional e interessado na actualidade do que eu (quase uma pedra a tender para o pseudo intelectualóide, portanto!), HOJE não me apetece mesmo nada falar sobre os males do mundo, sobre o início do julgamento do caso de pedofilia na Casa Pia, sobre a detenção do Graça Moura (ex-OML) ou sobre tantas outras coisas importantes nas nossas vidas... ehehe
HOJE apetecia-me estar em casa, debaixo de uma manta a ver o dvd com os melhores clips de Peter Gabriel que encomendei antes mesmo de sair no UK (uma preciosidade, para quem aprecia o género)... talvez a inspiração aparecesse numa espécie de milagre "made for non believers" como eu!
Assim... a trabalhar e ainda a "velar" um dente perdido, é mais difícil...

And I think to myself, what a wonderful world...

O rei Fahd da Arábia Saudita, fiel amigalhaço dos norte-americanos e respectivos interesses na região, governa alegremente um país de 14 milhões de almas, sem Parlamento, sem partidos políticos ou sequer uma Constituição.

Neste fantástico país, onde entre outras coisas as mulheres estão impedidas de conduzir veículos, onde se cortam as mãos aos ladrões e onde se matam à pedrada as mulheres ditas adúlteras, o rei Fahd, reinando de acordo com as normas da Charia, fez retirar do Corão o versículo 34 da surata XXVII que diz que "quando os Reis penetram numa cidade eles saqueiam-na. Eles fazem dos seus nobres habitantes os mais miseráveis homens. É assim que eles agem."

Maldita gasolina...

Para saber mais ver Com Alá ou com Satã - o fundamentalismo em questão, de Domingos Lopes e Luís sá, Campo das Letras, 1997

quarta-feira, novembro 24, 2004

Bem vindos nós e os outros e todos...

Quero ver se vou

Ver e ouvir os fiéis depositários da ainda restante moral nacional.


Recomendo vivamente

Este blogg fantástico cheio de autênticos momentos zen nacionais, onde o único comentário possível parece ser "Comentários para quê?"

http://arre.weblog.com.pt

Para começar, talvez pensar...

Tou farto de receber coisas destas que me fazem pensar que as coisas boas só acontecem aos outros nos respectivos países...


Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo
(às 15.30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa
dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que
um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de
maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez.
A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível
salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o
mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois
desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm
200 quilómetros dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos e Euros.
É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a
fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados
«devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades
móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em
Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e
«confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude
económica.
Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários
portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E,
já agora, os políticos. Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF
naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas, nem
pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e
não se ofendem quando os tratam por tu. Aqui, cada ministério faz uso de
dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro
às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se
preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos
e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente
importantes. Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do
país» com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão
das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e
Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi
preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa
corresse mundo por uma boa causa. Até os clubes de futebol
noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições
internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400
salários mínimos por mês para que estes joguem à bola. Nas gélidas terras dos
vikings conheci empresários portugueses que ali montaram negócios
florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar
Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica». Ao tempo para
viver e à segurança social.
É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós. Seria meio caminho
andado para nos civilizarmos.


Haverá um comboio às 7h04 para a Noruega?