quatro minutos depois das sete

hora de partida para outro lado qualquer...

terça-feira, dezembro 28, 2004

Na Terra

Ao longo da Interestadual, que no fundo é apenas no que à largura, número de faixas e qualidade do piso diz respeito uma equivalente às nossas nacionais lá se vão avistando, para além das colunas de fumo preto saindo das chaminés da usina onde se transforma a cana em cachaça e açúcar, uma ou outra casa no mesmo estilo simples, abundando o tijolo e a argamassa.
Já próximo de Goianinha o número de habitações à beira da estrada começa a aumentar consideravelmente, assim como o número de crianças que de pé descalço, seminuas, com os cabelos embaciados pela poeira do recreio, brincam alegremente e se detêm com olhar fixo para os carros que passam. São também abundantes as barrigas de vários e notórios meses. Os adultos exibem uma calma invejável e na tarde desse Sábado eram muitos os que se mostravam baloiçando-se nas omnipresentes redes, conversando em grupos ao redor de mesas improvisadas ou sentados nos degraus das casas. O cenário simples das casas mais ou menos vergadas pelo tempo e pela pobreza da construção à mistura com os tons de verde que se exibem por toda a parte fruto da vegetação generosa que parece brotar em cada espaço deixado livre, é apenas quebrado pela presença em cada uma dessas casas, praticamente sem excepção, de uma antena parabólica. Novo, o nosso guia, o homem que no aeroporto me esperava de folha A4 na mão com o meu nome escrito antecedido do prefixo Mr. – o que me deu uma enorme vontade de rir – fazia questão em notar que “a antena é mais cara que a casa!”
Ao seu lado Carlos, o condutor, mecânico de aviões da FAB e trabalhador do turismo por necessidade que o salário de sargento em fim de carreira é ao que tudo indica e segundo o próprio, magro, exibia orgulhosamente uma foto sua pousando sentado no cockpit de um F-16 Venezuelano. “Esse não posso dizer que seja meu porque não é do Brasil” dizia.
Novo lá ía dizendo que o estilo de vida de muitos dos homens da região se fazia ao sabor e em resposta às flutuações dos recursos disponíveis para o consumo de cachaça. Quando não há dinheiro para a bebida trabalha-se – na agricultura, na pesca, na construção - , para aí durante uma semana, acumula-se o suficiente, apanha-se um monumental porre e a seguir não se aparece para trabalhar durante uns dias. Depois o ciclo recomeça, sem drama porque as aspirações não são muitas e os dias vivem-se um de cada vez.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Paraíso

Tive a oportunidade de dar um pulinho de oito dias ao Brasil. Não era nem nunca foi para mim um destino de eleição uma vez que sempre me causou algum melindre o tipo de referências negativas que habitualmente inundam os telejornais a respeito deste país: enormes discrepâncias sociais, pobreza, criminalidade, violência, corrupção...
A tudo isto contrapunham-se os relatos de familiares e amigos que, já lá tendo estado, me diziam maravilhas do clima, das paisagens e das pessoas. Sempre achei que a visão deles era assumidamente parcial e redutora; alguns revelavam aquela atitude que sempre me irritou e que me habituei a chamar de "turista/colono", exaltando o barato que é fazer vida de rico por lá ou o engraçado que é ver o servilismo dos locais quando se lhes dá uma gorjeta, tudo isto sem abandonarem a aconchegante realidade virtual proporcionada pelos resorts...
Bom, de qualquer modo como as Caraíbas em Dezembro são instáveis do ponto de vista climatérico e nos apetecia muito sol e praia lá rumámos ao Nordeste Brasileiro, mais concretamente à pequenina vila de Pipa, sítio redescoberto por uma data de seguidores de Cabral, uns à procura de lazer, outros de oportunidades de negócio oferecendo respostas aos desejos dos primeiros.
Chegados ao aeroporto de Natal esperava-nos uma viagem de mais de uma hora através da Interestadual, estrada de 5000 Km que atravessa o Brasil de uma ponta a outra e através da qual percorremos para sul a quase totalidade dos 80 Km até Pipa. Debaixo de um já prometido e esperado calor lá fomos seguindo por uma paisagem tipicamente sul-americana, com casas de piso térreo e ar simples, muitas de tijolo à mostra, alinhadas numa ordenada quadrícula de ruas e avenidas amplas e planas que compõem os arredores da zona sul de Natal. Por aqui as pessoas acumulam-se nas esquinas, à porta das mercearias de porta de chapa ondulada e ar de garagem e poucas me pareceram caminhar ou movimentar-se para algum lado. Bem depressa se torna perceptível a languidez que compõe um cenário do qual os movimentos que associamos a conceitos como pressa ou pior ainda, stress, parecem ter sido extirpados por completo.
Saídos do cenário semi-urbano mergulhamos na imensidão da paisagem sertaneja, da mata tropical, dos hiperfúndios da cana de açúcar, da ruralidade expressa no gado que vagueia solto pela beira da estrada ou nos cavaleiros montando ao jeito de Lampião em cavalos pequenos em tamanho e aparentando um desbaste incompleto, traduzido numa manifesta irregularidade e falta de elegância nos movimentos.

(Continua)

quinta-feira, dezembro 23, 2004

FELIZ NATAL !!!

Norte

Jorge Palma encontrou o Norte, endireitou-se e mandou cá para fora um álbum de originais, coisa que já não fazia há algum tempo. Para quem gosta e quer saber mais é só ir a www.jorgepalma.web.pt.

PARTY VICTIM at WORK (where else for the time being?)

Pois parece que amanhã é Véspera de Natal!
Confesso que estou tão cansada que só de pensar na barafunda das festas, apetece-me deitar numa almofadita e dormir. Não é que eu não goste do Natal! Muito pelo contrário... eu até sou aquilo a que a minha amiga Espada chama de Sempre em Festa, que é como quem diz: uma "party victim".
E o problema é mesmo esse! Então cabe na cabeça de alguém sair praticamente em todos os dias da semana e ir trabalhar no dia seguinte?! Daí ser tão difícil acordar!...
Mas ontem valeu mesmo a pena! O nosso "querido amigo Berg" (como o músico/empresário "da minha geração" sempre diz*) e os músicos que o acompanham dão sempre um toque especial às noites do Speakeasy! E estas olheiras não têm qualquer importância quando comparadas com o prazer de passar momentos inesquecíveis (garantidos) naquele espaço.
É favor estar atento à programação, ir a www.speakeasy-bar.com e acima de tudo, beber um copo em boa companhia (também musical) ...
* O que é que ele traz nos bolsos, Ritinha?!?

É bom estar de volta...

Sobretudo pela família, pelos amigos e por alguns colegas.
Quinze dias de ausência serviram para reforçar a ideia de que o meu lugar é capaz de não ser mesmo aqui.
Com a Lua de Mel e as viagens para trás resta-me agora entreter-me e sonhar um pouco com as aventuras do jovem Che Guevara e do seu amigo Granado em viagem pela América do Sul enquanto desfolho as páginas do livro que ando a ler ao mesmo tempo que vou e venho de casa para o trabalho.
A inspiração, devo reconhecer, não é muita mas num futuro próximo prometo pôr por escrito algumas das impressões acerca dos sítios por onde andei e das pessoas que conheci.
Até lá Boas Festas para todos!

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Hoje, em árabe...

Pois que o aniversário da minha amiga Espada ontem foi um sucesso! O Real estava cheio! Muita música, ritmos africanos, dança q.b.... e boa disposição sem limites, mesmo com sono e cansaço.
E parece que isto da energia é mesmo renovável. Logo à noite... here we go again... juntar amigos e ouvir/ ver boa música ao vivo... Al - bergaria!!! (Só para quem sabe...)

terça-feira, dezembro 21, 2004

PARABÉNS ESPADA!!!

Imprópria para consumo

Afiguram-se-me tempos difíceis... Este final de ano não vai ser como eu desejava e o início do próximo vai trazer novos desafios, daqueles que poderiam ser adiados... ou talvez não.
Estou zangada e não me apetece escrever nada. (Juro que não planeei este verso!)
Vou só ali num instante preparar um pequeno anúncio a dizer "Oferece-se..."

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Desculpa, Tomás!

Se há pessoas com uma certa flexibilidade de horários, essa pessoa sou eu. Não pico cartão, ninguém pergunta se cumpri as oito horas diárias... Basicamente posso gerir o meu dia mediante as tarefas e objectivos de cada projecto em que participo e as reuniões ou outros compromissos envolvidos.
Ora, contrariamente ao que se passa em cada final de ano (e época natalícia, naturalmente), em que há uma espécie de adormecimento das pessoas e das empresas, que as faz desacelerar (frequentemente justificado pela necessidade de um "balanço" a todos os níveis), EU ESTOU CHEIA DE TRABALHO!!!
E cheia de pena por não poder estar agora na festa de Natal da escola do meu primo (quase sobrinho, quase filho... pronto só tem 5 anos...). Valem-nos as novas tecnologias nas comunicações que me permitiram receber uma mms do cenário e dos miúdos a divertirem-se à grande... que é para isso mesmo que serve ser criança!!!

Robi Draco Rosa

Hoje, comecei o meu dia a ouvir Robi Draco Rosa. (Sim, amigas, esse!)
Para quem não conhece... experimente ir a www.phantomvox.com ou a www.robidracorosa.com e saber um pouco mais sobre este compositor e intérprete surpreendente, com melodias latinas, rock, pop, algumas vezes jazzy. A Sol Música costuma passar dois videoclips, das músicas Dancing in the Rain e Lie Without a Lover. Recentemente começou a passar um terceiro videoclip Como me acuerdo. Ainda que esta última música seja uma das minhas favoritas deste album MAD LOVE, "recomendo" Never Know the Truth. É favor espreitar o site!!!

quinta-feira, dezembro 16, 2004

"that´s what the blues is all about"

Há quem diga (só os amadores e leigos amantes de música...) que eu até tenho aquilo a que se chama "ouvido"... que tenho uma razoável cultura musical e um gosto bastante ecléctico, ainda que naturalmente discutivel. Bom... modéstia à parte... terei de concordar... ;) Por isso, decidi que a partir de hoje passarei a fazer referência a albuns, compositores, intérpretes e afins, que considere interessantes ou que, por alguma razão, ache que devam ser partilhados aqui.
Começo então com o cd que hoje não tem parado de tocar enquanto trabalho: "The Very Best of Albert King". Pois que ouvi uma música deste senhor aqui há umas semanas na Rádio Marginal e pensei... "that's what the blues is all about". Ontem consegui o cd na Fnac (ó lugar da perdição!...) e voilà... para quem, como eu... é principiante e apaixonado por jazz e blues... vale a pena!
AH! Desculpem não ter foto da capa (é q estou à espera que o duda venha de lua de mel para descobrir como se inserem imagens no blog!)...

quarta-feira, dezembro 15, 2004

movimento migratório

Depois de uma breve ausência, devo confessar que está tudo na mesma... Ou seja, a minha inspiração antecipou-se ao meu desejo e...... EMIGROU! Está difícil portanto, manter a "promessa" feita ao meu companheiro de blog e manter uma certa actividade de escrita neste recente e singelo espaço de dissertações banais, quase roçando o dispensável...
Melhores dias virão, for sure...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Curiosity always kills the cat!

Não querendo fazer deste espaço uma espécie de Diário de Marilú, contando o que almocei hoje, o estado do trânsito e o frio que sinto (mesmo com um aquecedor a trabalhar todo o dia em cima de mim... em cima de mim, salvo seja...), não posso deixar de falar neste meu estado de alma insatisfeito e inquieto (ok... NEURA!).
Já muito me tenho interrogado sobre o porquê desta sensação de que a ignorância deve ser uma condição confortável e tranquila. Não falo da ignorância antónimo de inteligência. Falo de não ser necessário saber tudo, conhecer demais e pior ainda, ter as ferramentas para aceder à informação.
É que este vício de investigar e ter curiosidade vira-se muitas vezes contra o feiticeiro (yo, por supuesto!). Que bom que era que escolhessem exactamente o que quero saber, quando, sobre o que, sobre quem e onde!!! Uma espécie de filtro saudável com que os meus amigos procurariam peneirar o que é bom e o que é menos bom... (ainda que só de vez em quando...)
É que esta mania de tentar transformar a minha agenda pessoal num calendário de concertos perturba a minha sanidade mental!!! Vou largar esta droga (if you know what I mean)!!!

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Blood of Eden

Blood of Eden é o título de uma das canções que me faz voar.
É do Peter Gabriel e acompanha-me há pelo menos 10 anos.
Nem todos gostarão... compreendo. Gostos não se discutem... partilham-se ou não. (A velha história do Tê "Não se ama alguém que não ouve a mesma canção" tem o fundo de verdade que todos conhecemos.)
Pois que eu tinha prometido ao meu companheiro de blog que escreveria sobre o grande acontecimento de amanhã: o seu casamento.
Ora, ainda que eu seja a eterna crítica do dito compromisso (enquanto instituição, entenda-se), reconheço que é uma excelente forma de ter mais uns dias de férias no ano e a oportunidade de dizer a toda a gente que se está com a pessoa com quem se quer passar todo o tempo do mundo.
Por isso, deve valer a pena.
E porque tudo tem um sentido na vida... (Coerências e incoerências à parte) Desejo-te toda a felicidade (que conseguires agarrar!).
Que esta seja a pessoa que ouve uma canção... a mesma... a tua. Ouçam-na juntos!

quinta-feira, dezembro 02, 2004

O Pai do meu Pai

Desses dias de luto ficou a recordação do rosto enrugado e humedecido pelas lágrimas do avô Horácio, qual miúdo que acaba de perder a primeira namorada, beijando insistentemente o rosto frio e lívido da companheira adormecida. Cenário triste com os inevitáveis comentários de fundo dos vizinhos e familiares mais velhos “Eles eram muito amigos...” Estranha confusão essa entre amizade, amor e paixão, a mesma que fazia o meu avô repetir que tinha deixado de ver, de olhar para o que quer que fosse, para quem quer que fosse, a partir do dia em que conhecera a avó Bela. É sabido que a tempera do alentejano faz de si um indivíduo tradicionalmente reservado e introspectivo. Rejeitando a religiosidade formal proposta pela Igreja, o homem de alem Tejo não rejeita contudo uma espiritualidade natural, livre de rédeas institucionais, virada para o infinito desconhecido tantas vezes vislumbrado na imensidão da planície. Só dessa forma se entendia naquele momento a certeza do avô Horácio, senhor de um reconhecido agnosticismo iletrado, de que “Ela agora está em paz nas mãos do Todo Poderoso.”

Para rir à gargalhada, não fora o preço...

Finalmente em DVD, prontinho para ver em casa, o melhor do nonsense lusitano.

Informação sobre o DVD

<

Em boa hora!

O PR mandou a click caníbal instalada nos cadeirões do poder, dar uma volta ao bilhar grande!
Aguarda-nos agora uma eventual vaga rosa sustentada no mais puro Dolcismo-Gabanismo, tão bem representado por José Sócrates. Veremos se para além da substituição do estilo playboy azeitola de Santana Lopes pelo estilo fashion de bom gosto de Sócrates haverá lugar igualmente à lufada de ar fresco de que o país e sobretudo as classes médias omnipagadoras, tanto precisam.
Até lá, vale a pena vê-los à rasca! Esperam-se melhores dias. A ver vamos.